segunda-feira, 15 de abril de 2013

Miguel Arcanjo Terra e o Silvicultura


SILVICULTURA, O PRIMEIRO TIME EM DEFESA DO VERDE
As campanhas ecológicas vieram meio século depois do Silvicultura. O uniforme verde e branco do time era o orgulho de uma pequena comunidade que colhia sementes, selecionava as melhores e as transformava em mudas que povoaram campos e cidades. Não se tirava partido disso. Nenhum Partido Verde. Apenas se trabalhava, num tempo em que os ventos da Serra da Cantareira alcançavam as tardes da Avenida Paulista e talvez levassem pelo ar perfumes de flores nunca mais sentidos.
Assim como o poeta Décio Pignatari amava o Floresta, de Osasco, eu amava o Silvicultura. Era o símbolo maior do Horto Florestal, uma aldeia onde nenhuma mão se recolhia com medo de colher, plantar, se entregar. Mulheres lindas --- com nomes de Dalva, Alice, Darci, Terezinha, D...Ver mais
SILVICULTURA, O PRIMEIRO TIME EM DEFESA DO VERDE
As campanhas ecológicas vieram meio século depois do Silvicultura. O uniforme verde e branco do time era o orgulho de uma pequena comunidade que colhia sementes, selecionava as melhores e as transformava em mudas que povoaram campos e cidades. Não se tirava partido disso. Nenhum Partido Verde. Apenas se trabalhava, num tempo em que os ventos da Serra da Cantareira alcançavam as tardes da Avenida Paulista e talvez levassem pelo ar perfumes de flores nunca mais sentidos.
Assim como o poeta Décio Pignatari amava o Floresta, de Osasco, eu amava o Silvicultura. Era o símbolo maior do Horto Florestal, uma aldeia onde nenhuma mão se recolhia com medo de colher, plantar, se entregar. Mulheres lindas --- com nomes de Dalva, Alice, Darci, Terezinha, Ditinha, Albertina, Joanita, Neide, Maria Lúcia, Olga, Elvira, Inês, Cleide, Cecília, Lurdes, Irani --- foram namoradas, irmãs, noivas, mulheres, mães de um time que defendia o verde sem segundas intenções. 
Os goleiros Jaú, Braguinha, Nelson. E João Teixeira, Manelão, Rafael, Euclides, Joãozinho, Valdemar, Nelson Canhoto, Neco, Zé Rosa, Wabe, Paulo, Décio, Tejó , Toninho Terra, Nilo, Angelino. Seus nomes e fotos apareciam no jornal A Gazeta Esportiva, num caderno especial de futebol de várzea, e entraram em álbuns de recordação esquecidos em gavetas de velhos guarda-roupas.
Os jogadores do Silvicultura vieram de parques e jardins, onde cuidavam desse Verde que cada vez mais se apaga na nossa bandeira: jatobás, pinheiros, perobas, sibipirunas, ipês. Aos times visitantes eram ofertadas sombra e água fresca, que descia cristalina e sem pecados da Serra da Cantareira.
Sob as árvores ou próximos da cerca de ripas de madeira, pintadas de verde, os jovens também cultuavam aqueles ídolos do domingo que não ficavam tão distantes como Elvis Presley ou James Dean.
Os olhares de admiração só se desviavam do campo quando passava o Trenzinho da Cantareira. Das janelas de seus vagões, rostos distantes acompanhavam as jogadas em campo, mãos acenavam e o trenzinho virava a curva do Horto Florestal, sentido Mandaqui. Apenas a fumaça ficava e embaçava o olhar. 
Passou o trenzinho, passou o Silvicultura. Até a década de 1960, seu futebol era colorido e alegre como a Primavera. Mas, chegava um tempo em que a liberdade perdia a leveza do sereno. E sorrir por que? Cantar em que freguesia? E onde estava a esperança, que diziam ser a última que morre? E o Silvicultura saiu de campo.
Com a desprogramação armada de nossos sonhos, as árvores despencaram com os olhares, agora vidrados, frios, indiferentes e rasteiros. E a vida dava passagem para a morte. Mas,ainda bem que a morte sempre será só uma breve passagem.

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